Furacão Melissa atinge categoria 5 e ameaça Jamaica, Cuba e Haiti com chuvas catastróficas

O Furacão Melissa se tornou o primeiro furacão de categoria 5 da temporada do Atlântico de 2025 às 09h50 UTC-4 de segunda-feira, 27 de outubro, com ventos sustentados de 260 km/h — o equivalente a um tornado em escala contínua. Localizado a apenas 210 km de Kingston, na Jamaica, o sistema já deixou quatro mortos no Caribe e promete desastres sem precedentes nas próximas 48 horas. O Centro Nacional de Furacões (NHC), em Miami, alertou que a ilha pode receber até um metro de chuva, o suficiente para submergir bairros inteiros e desencadear deslizamentos que engolirão estradas e casas.

Um monstro que não para de crescer

Formado como tempestade tropical na terça-feira, 21 de outubro, o Furacão Melissa dobrou de intensidade em menos de 72 horas. Isso não é normal. Os oceanos estão mais quentes do que nunca — a temperatura média da superfície do Caribe superou os 30°C por mais de 30 dias consecutivos. "É como se a natureza tivesse ligado o botão de turbo", disse o meteorologista sênior do NHC, Michael Brennan, em coletiva. Ele não usou a palavra "recorde", mas não precisou: o olho do furacão, captado por satélites do Laboratório de Meteorologia Satelital da Universidade Estadual do Colorado, era perfeito, simétrico, quase artificial. "Foi a turbulência mais intensa que já enfrentamos", confirmou o pesquisador Dr. Scott Stevens.

As cidades que estão sendo esquecidas

Enquanto o mundo assiste às imagens do olho do furacão, as pessoas nas montanhas da Jamaica e nas favelas do Haiti não têm acesso a redes de comunicação. Em Port-au-Prince, moradores relatam que os rios transbordaram antes mesmo da chuva pesada começar. Três mortes no Haiti — uma criança de 8 anos, um idoso que recusou deixar sua casa e um pescador que tentou salvar seu barco — já foram confirmadas. Na República Dominicana, uma mulher morreu ao ser atingida por uma árvore caída em Santo Domingo. O Gabinete de Gerenciamento de Emergências Nacionais da Jamaica, liderado por Ronald Jackson, ordenou evacuações em massa desde sábado, mas muitos não têm para onde ir. "Se você sair de um abrigo, pode morrer na estrada. Se ficar, pode morrer dentro de casa. É isso que nos ensinam agora", disse uma moradora de Portmore, em um vídeo que circulou nas redes sociais.

Cuba: entre a tempestade e a política

As províncias de Granma, Santiago de Cuba e Guantánamo estão em estado de alerta máximo. O NHC prevê até 51 cm de chuva — o suficiente para derrubar casas de alvenaria frágil. Mas aqui, a situação é mais complexa. Enquanto os cubanos se preparam, os EUA mantêm uma frota militar no Caribe. O Comando Sul dos Estados Unidos confirmou, em 25 de outubro, que dezenas de navios e aeronaves foram mobilizados "para apoiar operações regionais". Fontes militares sugerem que a presença é, ao menos em parte, uma resposta ao regime de Nicolás Maduro, na Venezuela. A coincidência é incômoda: enquanto famílias se abrigam, navios de guerra cruzam as mesmas águas que vão ser devastadas.

Um terremoto que ninguém esperava

Ainda na segunda-feira, às 13h24 UTC-4, um terremoto de magnitude 6,5 sacudiu o Caribe, com epicentro a 103 km de Willemstad, em Curaçao. O United States Geological Survey (USGS) não emitiu alerta de tsunami — e não houve vítimas. Mas a geologia da região é frágil. Um abalo desses, combinado com solos saturados pelo Furacão Melissa, pode desencadear deslizamentos em áreas já danificadas. Cientistas da Climatempo S.A., em São Paulo, apontam que o fenômeno La Niña, que ainda persiste, está intensificando os ventos e a umidade no Caribe, criando um "efeito de lâmina de barbear" climático: tudo se alinha para o pior.

O que vem a seguir

O Furacão Melissa deve tocar terra no leste de Cuba na terça-feira, 28 de outubro, e continuar para as Bahamas na quarta, 29. Mas o perigo não termina ali. As correntes oceânicas estão carregando água quente para o norte — e o próximo sistema já se forma no Golfo do México. Enquanto isso, hospitais na Jamaica estão sem energia, e os poucos remédios para hipertensão e diabetes estão acabando. A água potável, escassa antes da tempestade, agora é um luxo. As pessoas estão bebendo água de poços contaminados. As crianças, os idosos, os doentes — são os que mais vão sofrer nos próximos dias. E ninguém está preparado.

Frequently Asked Questions

Por que o Furacão Melissa se intensificou tão rápido?

A combinação de águas do Caribe acima de 30°C, baixa cisalhamento do vento e a persistência do fenômeno La Niña criou as condições perfeitas para uma intensificação explosiva. A Climatempo S.A. aponta que essa é a quarta tempestade de 2025 a se tornar categoria 5 em menos de 72 horas — um recorde histórico. A temperatura do oceano está 1,5°C acima da média histórica, o que aumenta a energia disponível para os furacões.

Quais são os riscos imediatos para a população da Jamaica?

Além dos ventos de 260 km/h, o maior risco é a chuva: até 1.000 mm em algumas regiões, o que equivale a quase um ano de precipitação em apenas 48 horas. Isso causa inundações repentinas, deslizamentos de terra que engolem vilas inteiras e contaminação da água potável. O NHC alerta que 80% das casas na zona costeira da Jamaica não foram construídas para resistir a um furacão de categoria 5.

Como o terremoto de Curaçao pode piorar a situação?

Embora não tenha gerado tsunami, o abalo de magnitude 6,5 pode ter enfraquecido encostas e estruturas já danificadas pela chuva. Em áreas montanhosas da Jamaica e do Haiti, onde o solo está saturado, esse tipo de evento pode desencadear deslizamentos em cadeia — algo que os sistemas de alerta não conseguem prever em tempo real.

Por que a presença militar dos EUA é relevante nesse momento?

O Comando Sul dos EUA confirmou que navios e aeronaves foram mobilizados desde 25 de outubro, sob o pretexto de "apoio regional". Embora não estejam diretamente envolvidos no resgate, sua presença pode dificultar a logística de ajuda humanitária de países vizinhos, como o Brasil e o Canadá, que tentam enviar equipes e suprimentos. A tensão política com a Venezuela pode estar atrasando decisões logísticas críticas.

Quem são os mais vulneráveis nessa crise?

Idosos, crianças, pessoas com doenças crônicas e moradores de favelas ou vilas rurais. Na Jamaica, 37% da população vive em áreas de risco. No Haiti, 60% não têm acesso a água potável. Com hospitais sem energia, medicamentos esgotados e estradas destruídas, esses grupos estão sendo abandonados. O sistema de saúde já estava colapsado antes da tempestade — agora, está em ruínas.

O que pode ser feito para evitar isso no futuro?

Nada que seja feito agora evitará o desastre atual. Mas cientistas pedem urgência: reduzir emissões de carbono, investir em infraestrutura resistente e criar redes de alerta comunitário. A região do Caribe já perdeu mais de US$ 120 bilhões em danos climáticos desde 2017. Sem mudança estrutural, furacões como Melissa serão a nova normalidade — e não uma exceção.