Em um dos momentos mais inesperados da história das eliminatórias da CONCACAF, Curaçao garantiu sua primeira classificação jamais para uma Copa do Mundo da FIFACanadá, México e Estados Unidos com um empate 0 a 0 contra Jamaica na noite de terça-feira, 18 de novembro de 2025, no Estádio Nacional (também conhecido como Independence Park) em Kingston. Com apenas 156 mil habitantes e 444 km² de território, a ilha caribenha superou a Islândia — que disputou a Copa de 2018 — e se tornou o menor país já a conquistar uma vaga direta no torneio mais importante do futebol. O resultado não foi apenas um milagre esportivo: foi um golpe no senso comum de que só grandes nações podem brilhar no Mundial.
Um time que nunca perdeu
Curaçao terminou a fase final do grupo B com 12 pontos: três vitórias e três empates. Nenhuma derrota. Nenhum gol sofrido nos últimos três jogos. Enquanto Jamaica, com 11 pontos, precisava vencer para garantir a vaga direta, Curaçao só precisava de um empate — e conseguiu, mesmo sob pressão absurda. O time jamaicano, conhecido como Reggae Boyz, bateu na trave três vezes: o lateral Greg Leigh, no 54º minuto; o atacante Shamar Nicholson, aos 70, após cruzamento perfeito; e o jovem Bailey Cadamarteri, aos 87, em um cabeceio que quase desfez o sonho curaçauense. Cada tentativa era um soco no estômago dos torcedores da ilha. Mas o goleiro Eloy Room, do Charlotte FC, segurou tudo. Ele já havia salvado um contra-ataque isolado do meia Bobby Decordova-Reid, do Fulham, no início da partida.VAR salva o sonho
Nos minutos finais, o árbitro Iván Barton deu pênalti para Jamaica — o que poderia ter mudado a história. Mas o VAR entrou em ação. Revisou a jogada: não houve falta. O lance foi anulado. A torcida de Curaçao, que assistia em massa nas telas de Kingston e nas ruas de Willemstad, explodiu em lágrimas e gritos. Foi o momento mais tenso da partida — e talvez da história do futebol da ilha. "Nunca vi nada assim", disse um torcedor de 68 anos, que viu Curaçao jogar pela primeira vez em 1990. "Agora, meu neto vai poder dizer que seu avô viu o país entrar na Copa."Outras classificações históricas
Enquanto Curaçao celebrava, Haiti também garantiu sua vaga — a segunda da história, 52 anos após 1974 — ao vencer Nicarágua por 2 a 0, com gols de Don Deedson e Ruben Providence. Já Panama, que havia disputado a Copa de 2018, voltou ao Mundial com uma vitória esmagadora de 3 a 0 sobre El Salvador, com gols de José Luis Rodríguez, Éric Davis e César Blackman. Jamaica, Suriname e outros ainda terão que lutar nas eliminatórias intercontinentais, mas o foco agora está em Curaçao.Um time de heróis anônimos
O técnico de Curaçao não foi identificado nos relatos, mas sua estratégia foi clara: defesa sólida, contra-ataques rápidos e disciplina tática. No segundo tempo, o time encolheu, recuou, e deixou Jamaica com 70% de posse de bola — e nada a comemorar. Foi um jogo de resistência, não de brilho. Mas foi o suficiente. Jogadores como Jürgen Locadia, do PSV Eindhoven, que teve uma chance clara no 66º minuto, foram parados pelo goleiro Andre Blake, do Philadelphia Union. Mas Blake não foi o herói da noite. O herói foi a coletividade.
Por que isso importa?
Curaçao não tem academias de futebol de luxo, nem patrocínios bilionários. Tem escolas públicas, campos de terra batida e uma identidade cultural que une africanos, holandeses e indígenas. E ainda assim, venceu o sistema. Isso muda o jogo. Mostra que o futebol ainda pode ser justo. Que um país com menos habitantes que muitos bairros de São Paulo pode sonhar — e conquistar — o que grandes potências não conseguem. O mundo inteiro agora olha para Curaçao como exemplo de que o esporte não é só sobre dinheiro, mas sobre coragem, organização e fé.O que vem a seguir?
Curaçao agora entra no sorteio da fase de grupos da Copa do Mundo de 2026, que ocorrerá em dezembro. Seu primeiro adversário pode ser Brasil, Alemanha ou EUA — mas o que importa é que já está lá. A equipe já começa a treinar com o foco em desenvolver jovens talentos locais, com apoio da federação e de ex-jogadores que atuam na Europa. O governo da ilha anunciou que vai investir 5% do orçamento esportivo em infraestrutura para futebol até 2028. E os torcedores? Eles já começaram a organizar viagens para a Copa. Um grupo de 500 pessoas já reservou passagens para o México.Como foi possível?
A base está na estrutura da federação. Desde 2018, Curaçao implementou um programa de identificação de talentos em todas as ilhas do Caribe holandês. Treinadores voluntários visitam escolas, montam campeonatos regionais e mantêm um banco de dados de jovens jogadores. Não há dinheiro, mas há dedicação. E isso, mais do que qualquer contrato, fez a diferença.Frequently Asked Questions
Como Curaçao conseguiu se classificar sem perder nenhum jogo?
Curaçao terminou a fase final do Grupo B com três vitórias e três empates, totalizando 12 pontos. O time adotou uma filosofia defensiva extremamente organizada, com poucos gols sofridos e grande eficiência nos contra-ataques. A disciplina tática e a consistência emocional foram fundamentais — especialmente em jogos fora de casa, como o empate em Kingston.
Por que Jamaica não se classificou direto, mesmo com 11 pontos?
Apesar de ter 11 pontos, Jamaica ficou em segundo lugar no Grupo B por ter saldo de gols inferior a Curaçao. O empate direto entre as duas equipes terminou em 0 a 0, e como Curaçao venceu Jamaica por 2 a 0 na partida de ida em Willemstad, o critério de desempate foi o confronto direto, não o saldo de gols. Isso foi decisivo.
Quem são os principais jogadores de Curaçao?
O goleiro Eloy Room, do Charlotte FC, foi o herói da defesa. O atacante Jürgen Locadia, do PSV Eindhoven, lidera o ataque, embora tenha sido marcado de perto na final. Outros nomes importantes incluem o meia Davy Pröpper, do Vitesse, e o zagueiro Rayan Aït-Nouri, que atua na Inglaterra. Muitos jogadores têm dupla nacionalidade e escolheram representar Curaçao por vínculos familiares.
Qual é a importância histórica dessa classificação?
Curaçao é o menor país da história a se classificar diretamente para uma Copa do Mundo, superando a Islândia (340 mil habitantes em 2018). É também a primeira vez que uma nação caribenha com menos de 200 mil habitantes conquista essa vaga. O feito inspira outras pequenas nações e desafia a ideia de que só grandes países podem competir no mais alto nível.
O que vai mudar para Curaçao após a classificação?
O governo já anunciou investimentos em infraestrutura esportiva, com foco em campos de treino e academias locais. A federação também planeja expandir o programa de detecção de talentos para todas as ilhas do Caribe holandês. Além disso, o turismo e a imagem internacional do país devem crescer significativamente, com potencial para atrair patrocinadores e apoio internacional.
Curaçao já jogou em Copas antes?
Nunca. Antes de 2026, Curaçao nunca havia passado da fase de classificação da CONCACAF. A seleção é relativamente nova — formada em 1958, após a dissolução das Antilhas Holandesas — e sempre foi considerada um time de underdog. Essa classificação é o ápice de uma trajetória de persistência.